Os dados abertos ajudam-nos a conhecer o que comemos
O projecto O que tem o meu iogurte? foi lançado no último Open Data Day, em 22 de fevereiro de 2014. O título do projecto é um apelo simples, lançado em forma de desafio, para abrir os dados dos iogurtes consumidos por esse mundo fora.
Abrir um iogurte é fácil: basta olhar para a embalagem e preencher um formulário muito simples com a informação aí descrita: composição (ingredientes), informação nutricional, data de validade, código de barras, local de produção… O formulário pode ser preenchido no site do Open Food Facts ou através de uma aplicação Android/iPhone disponível para o efeito. Os dados inseridos – que devem incluir também uma fotografia do iogurte e indicação do local de compra – são depois incorporados numa base de dados que armazena e cataloga dados relativos a iogurtes das mais variadas origens!
A magia acontece no momento em que o formulário preenchido é submetido: é aqui que os dados se tornam abertos, ao passar a fazer parte de uma base de acesso público e livre. Qualquer pessoa poderá então consultar e até mesmo explorar esses dados para a criação de guias, visualizações, análises estatísticas de ingredientes, análises de marcas… ou outras formas de tratamento que podem conduzir a novas conclusões.
Como nos explicam os autores da iniciativa:
Em todo o mundo há iogurtes a serem comidos mas a composição deles varia consideravelmente de país para país. Seria muito interessante analisar essas diferenças, tentar perceber quais delas podem explicar diferenças de sabor e quais são consequência de legislações locais, impostos, lobbying, etc. Por exemplo, comparar a predominância da glucose de milho usada como adoçante nos Estados Unidos com a do açúcar de cana ou a beterraba-sacarina, usadas noutras partes do mundo.
Se tivermos dados suficientes quem sabe não conseguimos estabelecer relações entre as diferenças nos vários iogurtes e a persistência de certas doenças e sintomas? Sabias que os iogurtes se tornaram populares na Europa Ocidental e América, no início dos anos 90, por causa de um prémio Nobel de biologia que colocava a hipótese de que os camponeses Búlgaros tinham uma esperança média de vida acima da norma por comerem muito iogurte? http://en.wikipedia.org/wiki/Yogurt#History Podíamos até considerar se existe uma relação entre as quantidades das porções individuais e a obesidade. Em último caso, não há dúvida que a média dos tamanhos dos iogurtes num mapa mundial seria uma visualização interessantíssima.
O que tem o meu iogurte? What's in my yogurt? faz parte de um projecto maior e mais antigo, o Open Food Facts. Trata-se de uma base de dados que pretende reunir informação sobre todo o tipo de produtos alimentares em todo o mundo, de forma aberta e participativa. O Transparência Hackday tem contribuído sobretudo para a iniciativa dos Iogurtes Abertos. Vê aqui os iogurtes de Portugal que já estão registados. A simplicidade dos iogurte e a sua presença concreta no quotidiano de tantas pessoas é capaz de cativar gente de todas as idades a participar de um projecto que, se bem sucedido, poderá influenciar as decisões de consumo de toda a gente.
Os alimentos comercializados encerram uma enorme complexidade, não somente no que diz respeito ao aspecto imediato da nutrição, mas também na avaliação dos efeitos a longo termo de certas substâncias no organismo e reacções alérgicas possíveis até agora ignoradas. O conhecimento aprofundado da composição dos alimentos é também uma preocupação diária de quem segue um regime alimentar de fundamento ideológico (como por exemplo, o veganismo).
Idealmente, esperamos que um produto alimentar aberto seja aquele do qual conheçamos também a história dos meios tecnológicos e humanos envolvidos na respectiva produção, distribuição e divulgação. Para abrir o apetite de coisas fixes feitas com dados sobre produtos alimentares, recomendamos uma espreitadela a esta página especial da National Geographic.
Já sabes, quando comeres um iogurte, tira uma foto e, entre colheradas, adiciona o teu iogurte a esta lista.
Tens dúvidas? Deixa um comentário aqui, passa pelo nosso chat ou aparece no próximo Hackday.
Este artigo foi escrito a duas mãos pela Mariana Magalhães Mota e pela Ana Isabel Carvalho, que, apesar de comerem poucos iogurtes já adicionaram muitos no Open Food Facts.